Este texto pode ser lido na sua totalidade no
público de sexta-feira ou no blog da autora, a jornalista
Laurinda Alves.
«Nas escolas portuguesas os alunos não são ensinados a argumentar e a defender pontos de vista, não são treinados no debate de ideias e muito menos estimulados no improviso e na expressão oral. Não existem aulas para aprender a falar em público nem as matérias relacionadas com a comunicação são muito exploradas e é pena pois os portugueses apresentam sérias desvantagens num campo cada vez mais exigente e determinante.
Numa era claramente marcada pela comunicação, ter dificuldade em exprimir ideias, em alimentar um debate ou manter uma polémica com quem tem opiniões divergentes é um handicap tremendo. A diversidade de dons é e será sempre enorme e hoje em dia ganha mais quem comunicar melhor aquilo que sabe.
Tão importante como pensar e fazer bem as coisas é saber comunicá-las. Acontece que no sistema de ensino nacional não existem cadeiras específicas de comunicação e o resultado é que a generalidade dos portugueses não se sente confiante na expressão verbal das suas ideias e competências.
Passo a vida em conferências, seminários, workshops, encontros e discussões públicas sobre inúmeras questões e saio de lá quase sempre com a frustração de ver que os conferencistas nacionais são os mais chatos e os mais abstractos. Usam powerpoints palavrosos e incrivelmente densos, limitando-se a debitar em alto o que está escrito no ecran que é projectado ao lado.
Sempre que alguém fala para uma plateia desta forma dá um tiro no pé. A audiência não consegue acompanhar nem as palavras escritas nem as palavras ditas e, por isso, a comunicação é nula. Um desperdício em toda a linha, portanto.
Há os que escrevem o que querem dizer para não correrem o risco de se esquecerem ou para manterem uma coerência discursiva impecável ao longo da sua intervenção mas também estes falham muitas vezes a comunicação por uma razão simples: enquanto lêm o papel não olham para a plateia e não falam verdadeiramente com quem está presente. Até podem dizer coisas bem articuladas do ponto de vista literário mas como não adaptam o discurso às circunstâncias, não percebem para quem falam nem se detêm na eficácia daquilo que comunicam.
Salvo as raras e honrosas excepções dos que têm essa maravilhosa capacidade de ler um texto como quem conversa, usando um tom coloquial e um estilo simples, todos os que lêm um papel em alto tornam-se monótonos. Pior, como trouxeram as coisas escritas de casa e não fazem nada de improviso, tudo aquilo soa a ‘minuta’. Ou seja, a coisa que tanto pode ser dita aqui como repetida ali.
Por tudo isto e porque é nas escolas e nos liceus que estas competências devem ser adquiridas e treinadas não me canso de falar sobre a gravidade desta lacuna no nosso sistema de ensino. O que me cansa é ouvir chatos muito chatos.»