autores: Luís Peça, Fernando Alves, Susana Ferreira

Sábado, 22 de Novembro de 2008
Tão importante como pensar e fazer bem as coisas é saber comunicá-las
Este texto pode ser lido na sua totalidade no público de sexta-feira ou no blog da autora, a jornalista  Laurinda Alves.
 
«Nas escolas portuguesas os alunos não são ensinados a argumentar e a defender pontos de vista, não são treinados no debate de ideias e muito menos estimulados no improviso e na expressão oral. Não existem aulas para aprender a falar em público nem as matérias relacionadas com a comunicação são muito exploradas e é pena pois os portugueses apresentam sérias desvantagens num campo cada vez mais exigente e determinante.
 
Numa era claramente marcada pela comunicação, ter dificuldade em exprimir ideias, em alimentar um debate ou manter uma polémica com quem tem opiniões divergentes é um handicap tremendo. A diversidade de dons é e será sempre enorme e hoje em dia ganha mais quem comunicar melhor aquilo que sabe.
 
Tão importante como pensar e fazer bem as coisas é saber comunicá-las. Acontece que no sistema de ensino nacional não existem cadeiras específicas de comunicação e o resultado é que a generalidade dos portugueses não se sente confiante na expressão verbal das suas ideias e competências.
 
Passo a vida em conferências, seminários, workshops, encontros e discussões públicas sobre inúmeras questões e saio de lá quase sempre com a frustração de ver que os conferencistas nacionais são os mais chatos e os mais abstractos. Usam powerpoints palavrosos e incrivelmente densos, limitando-se a debitar em alto o que está escrito no ecran que é projectado ao lado.
 
Sempre que alguém fala para uma plateia desta forma dá um tiro no pé. A audiência não consegue acompanhar nem as palavras escritas nem as palavras ditas e, por isso, a comunicação é nula. Um desperdício em toda a linha, portanto.
 
Há os que escrevem o que querem dizer para não correrem o risco de se esquecerem ou para manterem uma coerência discursiva impecável ao longo da sua intervenção mas também estes falham muitas vezes a comunicação por uma razão simples: enquanto lêm o papel não olham para a plateia e não falam verdadeiramente com quem está presente. Até podem dizer coisas bem articuladas do ponto de vista literário mas como não adaptam o discurso às circunstâncias, não percebem para quem falam nem se detêm na eficácia daquilo que comunicam.
 
Salvo as raras e honrosas excepções dos que têm essa maravilhosa capacidade de ler um texto como quem conversa, usando um tom coloquial e um estilo simples, todos os que lêm um papel em alto tornam-se monótonos. Pior, como trouxeram as coisas escritas de casa e não fazem nada de improviso, tudo aquilo soa a ‘minuta’. Ou seja, a coisa que tanto pode ser dita aqui como repetida ali.
 
Por tudo isto e porque é nas escolas e nos liceus que estas competências devem ser adquiridas e treinadas não me canso de falar sobre a gravidade desta lacuna no nosso sistema de ensino. O que me cansa é ouvir chatos muito chatos.»


publicado por alves às 19:28
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Segunda-feira, 8 de Setembro de 2008
Marçal Grilo no V Fórum GPS

 

 

A comunicação apresentada pelo ex-ministro da Educação, Marçal Grilo, no V Fórum GPS, nas Caldas da Rainha, pareceu-me muito interessante.

Deixo aqui um resumo das ideias por ele apresentadas e das quais tirei notas. Apresento-as em forma de lista rápida.

 

Portugal é um pais de assimetrias onde onde o melhor convive lado a lado com o pior.

Cerca de 60% da população tem 6 ou menos anos de escolaridade.

Cerca de 80% dos nossos empresários tem 9 ou menos anos de escolaridade.

Apesar de tudo, nunca tivemos tantos licenciados e doutorados. Nunca tivemos uma elite como a que temos hoje.

Qual o principal problema educativo português? É impossível nomear um único factor mas a forma como a população olha para a escola é importante.

Os portugueses são pouco exigentes consigo próprios e por consequência com os outros.

Características (negativas) dos portugueses:

- têm pena de si próprios;

- gostam de pertencer ao problema e não à solução.

- são invejosos do sucesso do outro.

Uma parte da população acha que o sucesso tem mais a ver com sorte do que com trabalho.

No entanto cada vez mais portugueses já perceberam que para ter sucesso é preciso responsabilidade, iniciativa, arriscar e muito trabalho.

Responsáveis pela educação das crianças e jovens:

1- Pais e família: não dão aulas mas são a referência dos jovens e estabelecem valores.

2- Escola.

Um aluno quando chega ao 5º ano já tem 4000 horas de televisão.

Estamos a criar uma sociedade louca, onde as pessoas são vistas como consumidores e clientes e não como verdadeiras pessoas.  É uma sociedade perigosa, sem valores.

 Por vezes há uma certa desistência da educação dos filhos por parte das famílias. Sobra a escola que tem então como função transmitir:

- a formação base (Língua Materna, História, Ciências, Tecnologias).

- atitudes e comportamentos como autonomia, liderança, enpreendedorismo, etc. Estes não se ensinam mas é na escola que se desenvolvem.

- valores: respeito pelos outros, solidariedade, respeito pela verdade, tolerância.

As famílias definem a sua "escolaridade mínima recomendável". Esta já é de 12 anos apesar da escolaridade obrigatória se manter nos 9 anos.

Há muitas empresas que já não admitem ninguém com menos do 12º ano.

A Internet vem reforçar a importância da escola. O acto educativo, entre professor e aluno, é fundamental.

A escola deve essencialmente ensinar.

A 1ª prioridade é por os alunos a ler e a gostar de ler. 

Quem lê aprende sempre, toda a vida.

Há um estudo da OCDE que demonstra que os alunos que lêem ultrapassam o handicap sócio-cultural.

Vivemos com o horror da cultura televisiva. As pessoas falam de tudo (o que dá na TV) sem saberem nada.

Como contrariar a TV?

Com a escola. Esta tem de tornar atractivo aquilo que não o é quando comparado com a televisão.Por isso o desafio dos professores é tremendo.

Condições para uma escola ser boa:

- ter projecto, saber o que quer fazer;

- ter uma liderança forte;

- ter um corpo docente estável.

Gestão das escolas: deve ser feita sem recorrer ao Ministério da Educação. Deve ser na escola que as coisas da escola se decidem.

Escola Pública/Escola Privada: o que conta não é a génese da instituição mas sim como serve a sociedade.

A funcionalização dos professores é perigosa.

Os professores são uma referência: profissional, cultural e moral. São educadores.

A afirmação da personalidade é fundamental num professor. É essencial que um professor assuma o que pensa sobre as questões perante os seus alunos.

Falta em Portugal a voz da escolas. Temos a voz do Ministério, a voz dos sindicatos mas falta um elemento: a voz das escolas.

Alguns mitos da educação em Portugal: 

- Em Portugal ninguém reprova.

É falso. Portugal tem das maiores taxas de retenção na Europa;

- Em Portugal ninguém sabe nada.

Os nossos alunos de 15 anos que frequentam o 8º e 9º ano tem resultados no Estudo Pisa acima da média da OCDE. O que traz a média de Portugal para valores mais baixos são os alunos de 15 anos que frequentam o 5º, 6º e 7º ano (que lá não estariam caso não houvesse tantas retenções). 

Ao aluno devem ser impostos metas e resultados pela escola.

Os automatismos, nas aprendizagens, não são um crime.

Retenção/Abandono Escolar: continuamos a conhecer mal as causas. O abandono escolar é muitas vezes uma decisão consciente das familias. 



publicado por Luís Peça às 20:27
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